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O dia do leitor é comemorado em 7 janeiro no Brasil, contudo, apesar de termos até um dia dedicado a arte de ler livros. Ainda sim, a leitura não é um hábito tão regular para a maioria da população. Não falo isso como senso comum, porque não se discute frequentemente sobre livros na mesa de bar ou tomando café na padaria.

Digo isso, pois, infelizmente, há pesquisas sobre o assunto que indicam que, para o brasileiro, ler não é uma alternativa tão interessante de lazer. Por isso, para trazer um pouco de dados e entendermos qual é o cenário atual da leitura no país. Hoje, vou falar sobre a relação do brasileiro com a leitura.

O que as pesquisas dizem sobre os hábitos de leitura dos brasileiros?

Segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo IBGE, a porcentagem de leitores de 2015 a 2019 caiu de 56% para 52%. Isso significa que, em média, o Brasil perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores. Esses, por sinal, são em sua maioria, pessoas com ensino superior, em 2015 eram 82%, já em 2019, o número caiu para 68%

Junte a esses números, os indivíduos com mais de cinco anos que não leram nada em três meses. Eles representam uma contagem bastante expressiva no país: 93 milhões de 193 milhões de brasileiros, ou seja, 48% da população.

Outro dado curioso é que das pessoas que leem no país, a maioria disse que o seu livro favorito era a Bíblia. Também, existe um grande favoritismo para outras obras religiosas e de autoajuda. Além de livros, como Cinquenta Tons de Cinza, O Monge e o Executivo e A Culpa é da Estrelas também serem citados como leituras favoritas dos brasileiros.

Quem é o tipo de leitor brasileiro?

No começo deste texto, eu disse que o brasileiro não considera tanto a leitura uma alternativa de lazer. Na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil descobriu-se que, para nós, ler está mais para os estudos, para autoajuda ou religião. Porém, se o objetivo é ler por prazer, o brasileiro tende a escolher alternativas que estão em alta no momento.

Outra informação importante é que o hábito da leitura está muito relacionado com a renda. Quanto menor a renda e as condições sociais, mais são as chances de não ter a leitura como hábito. Logo o número de leitores da classe baixa tende a ser menor que da classe alta (pessoas que ganham de 5 a 10 salários mínimos).

É preciso dizer também que o indivíduo que lê no Brasil é aquele que costuma não consumir muitos livros. Na média, o brasileiro lê cinco livros por ano, sendo que metade dessas obras uma leitura não concluída.

Os outros países

Se dentro do Brasil, ler mais tem uma relação com o poder aquisitivo. Quando olhamos para uma perspectiva mais ampla, de acordo com os hábitos de cada país, vemos que isso não tem correlação. Países mais ricos não necessariamente leem mais. Segundo o Índice de Cultura Mundial em 2011, a Índia era o país com mais horas de leitura com 10h42 por semana. O Brasil tinha 5h12, o Japão, 1h06 e os EUA, 5h42.

Então o que faz o brasileiro ler mais?

A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil mostrou que a cada três indivíduos que cultivam o hábito de leitura, um teve alguém que os estimulassem a gostar. Boa parte desses entrevistados afirmaram que os professores foram os primeiros responsáveis. Em segundo lugar a mãe ou alguém do sexo feminino e, por último, o pai ou uma figura do sexo masculino.

E o que não faz?

Durante muitos anos, o analfabetismo foi um problema em grande escala no país. As campanhas e iniciativas a favor da alfabetização conseguiram reduzir o nível de pessoas analfabetas. Segundo o IBGE, em 1991, a taxa de pessoas acima dos 15 anos que não sabiam ler e nem escrever era de 19,7%, esse número foi reduzido mais de 10%, chegando a 7,2% em 2017.

O analfabetismo é, em parte, um dos motivos a se pensar quando nos perguntamos por que o brasileiro não consegue ler. Até porque, infelizmente, quanto menos capacidade escolar, menos chances de ter um alto índice de leitura. Por exemplo, um indivíduo com nível superior consegue ler em média 7,7 livros por ano, já um com nível médio 3,9, da 5ª a 8ª série 3,7 e por fim, 4ª série, 2.5.

Como está o mercado editorial brasileiro?

Além dessa questão, também devemos lembrar que os preços dos livros podem ser um grande empecilho para que as pessoas tenham acesso a esse tipo de entretenimento. Para piorar, o mercado editorial brasileiro vem sofrendo uma redução bastante expressiva. 

O setor está em queda desde 2018, isso ficou bem claro quando redes grandes como a Cultura e a Saraiva entraram em falência. Com a pandemia o faturamento de abril foi 48% menor do que do ano passado, havendo um aumento em julho de 4,44%.

A taxação de livros

Recentemente, o projeto da reforma tributária reavaliou algumas isenções de tributos. Entre elas, há uma proposta para retirar a desobrigação do imposto sobre livros. O texto base foi enviado para o Congresso e está em análise desde julho.

A ideia é juntar os tributos do PIS/Pasep e Cofins e transformá-los em um único imposto, chamado CBS (Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços). O valor desse tributo seria de 12%, sendo repassado para o preço final do livro. Lembrando que o setor de livros não paga impostos no Brasil, já que é protegido pela Constituição Federal. Além disso, está isento dos tributos PIS/Pasep e Cofins pela Lei 10.865 de 2004.

É curioso observar esses dados sobre os nossos hábitos de leitura: ao mesmo tempo que, aparentemente, o mercado literário parece bastante expansivo, com Amazon, E-books e booktubers, ainda temos um grande caminho pela frente para tornar o ato de ler livros mais acessível. 

Principalmente, pela grande distância entre quem tem mais recursos financeiros, portanto, mais acesso e aqueles que não possuem. Nesse ponto, a educação tem um papel crucial para tornar a leitura mais democrática e uma alternativa de lazer para os brasileiros.

Este texto expandiu a sua cabeça? Então, comente, quero saber o que achou!