rotina de escrita - máquina de escrever em uma mesa


Para mim, a rotina de escrita não é exatamente uma “rotina”. Claro que depois de muito quebrar a cara, ficar trabalhando durante o dia inteiro e nem chegar a ver a luz do sol. Entendi que é preciso definir limites e comecei a ter mais equilíbrio no que faço. Percebi que é importante se permitir ter algumas horas de ócio.

Se isso pode ser considerado como ter uma rotina de escrita? Não sei. Porém, acredito que a medida que se faz algo por muito tempo, acaba-se criando pequenos rituais durante o processo. É o ato de  sempre pegar uma xícara de chá antes de começar a escrever, por exemplo. Atividades secundárias que trazem um significado a mais para o que se produz.

Então, quando eu comecei a pensar qual seria o tema deste texto, achei que seria interessante conhecer algumas rotinas de escritores só para entender quais são os seus rituais. Procurei escolher autores que têm estilos diferentes e, do mesmo modo que há uma divergência na maneira de escrever, eles também possuem hábitos bastante peculiares para criar.

Sendo assim, a partir de agora, você vai conhecer algumas dessas rotinas e quais são as suas particularidades. Confira!

5 escritores e suas rotinas

Gosto muito da frase que está no livro, Encontro Marcado de Fernando Sabino. Existe um momento em que o protagonista, Eduardo Marciano, encontra-se com seu “tutor” Toledo (acho que posso dizer assim).Nesse momento existe um diálogo bastante interessante.

Toledo diz a seguinte frase: “Gide disse que o diabo desta vida é que entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove, pois bem a literatura é como se tivesse que renunciar a todos os cem”.

Não que eu pense que escrever seja esse martírio, acredito que para muitos não é. No entanto, à medida que fui acompanhando algumas das rotinas, percebi que o ato de pôr letras no papel, ou não tem nada de mágico e faz parte de um processo, ou é uma coisa tão diferente que a pessoa não sabe explicar.

Um exemplo, é a escritora Clarice Lispector na sua crônica publicada no Jornal do Brasil em 1968. Em uma parte ela diz o seguinte: “Quando não estou escrevendo, eu simplesmente não sei como se escreve”. Completa: “Fora das horas em que escrevo, não sei absolutamente escrever”.

Já para Stephen King, a coisa é mais disciplinada. No seu livro “Sobre a escrita” publicado em 2018, ele diz que precisa escrever pelo menos 2.000 palavras por dia e sempre começa às 8 da manhã. O escritor de 1Q84, Haruki Murakami tem uma rotina mais agitada. Na percepção dele, escrever tem uma ligação com a conexão mente e corpo, sendo assim, o ritual dele é quase de um atleta.

Quando ele vai escrever, acorda às 4 da manhã e fica trabalhando por 5 ou 6 horas, depois corre 10 km a tarde ou nada 1500 metros, ou ambos. Lê um pouco e ouve música e então vai para a cama às 21. Para Murakami, a repetição é o diferencial, uma forma de chegar a um estado mental melhor. Truman Capote, o autor de “A Sangue Frio”, escrevia pelo menos 4 horas por dia.  Revisava a noite ou na manhã seguinte e fazia duas versões manuscritas a lápis para depois datilografar a versão definitiva.

Enquanto, Honoré Balzac, autor de obras como As Ilusões Perdidas e O Lírio do Vale, podemos dizer que ele tinha uma rotina inversa. Ia para cama às 18 e acordava de madrugada por volta das 1 da manhã. Nesse horário, começava a escrever, além disso, era viciado em café, chegando a beber 50 xícaras por dia.

A rotina e o nosso processo

Deu para perceber como as rotinas não têm nenhuma similaridade, não é? E, claro, nem devem. Contudo, é interessante analisar como diferentes processos podem levar a um mesmo resultado.
Não um efeito igual, afinal, cada um produziu obras diferentes, porém, ao objetivo semelhante que nesse caso é escrever. Acho que, muitas vezes, procuramos formas e manuais de como fazer algo. Talvez, focar exatamente no que funciona para você já é alguma coisa, mesmo que não seja o mais usual.

Bem, como leitura complementar, eu quero recomendar dois sites em inglês (mas o Google tradutor tá aí neh). O primeiro é da Maria Popova, chamado Brain Pickings que possui textos bastantes interessantes, inclusive, sobre entrevistas e diários de escritores famosos.

O segundo é o site Writing Routines, com uma série de entrevistas de autores best-sellers, principalmente, focadas nas rotinas. Também, com artigos para ajudar a criar a sua própria.
Encerro agora o assunto rotina e também os deste ano. Nos vemos em breve. Até mais.

Ah se você perdeu algum texto, segue a lista:
A rotina e o ato de não pensar
A rotina e o que traz significado para a nossa vida