Até nas buscas sobre o assunto, não é incomum encontrar textos como: ser criativo é a chave para ser bem-sucedido no meio profissional. As empresas buscam por profissionais criativos. Indivíduos criativos são capazes de acabar com toda a fome do mundo e ainda andar sobre as águas, etc.
De fato, a capacidade de desenvolver ideias completamente inovadoras e que ainda são úteis para outras pessoas, é fantástica. Mas é preciso entender que ter essa habilidade consiste numa junção de antecedentes que vão muito além de apenas ser.
Aqui, eu vou tentar apresentar algumas considerações sobre criatividade e também desmistificações sobre competência. Continue!
Não se engane tudo precisa de criatividade
Pode parecer um pouco absurdo, mas esse subtítulo não está errado. Tudo o que você fez hoje precisou de uma dose de criatividade. Não o tipo capaz de desenvolver uma nova máquina que converterá a energia solar em petróleo. Entretanto, todas as nossas tarefas necessitam que a gente utilize uma dose do nosso raciocínio e inove em alguns pontos.Alguns pesquisadores até acreditam que os nossos níveis de criatividade variam de acordo com as necessidades, de forma que estamos sempre utilizando essa habilidade. Sendo assim, tarefas mais simples, como fazer uma receita e mudar algum ingrediente de última hora, ou, mais complexas, como criar uma campanha para uma enorme rede de fast food, precisam em algum grau de inovação.
A grande questão aqui é: o que difere uma pessoa que precisa utilizar sempre sua criatividade de outra que só a usa em momentos espontâneos? No artigo da revista científica PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) cientistas descobriram algo interessante sobre criatividade.
Eles perceberam que o cérebro de pessoas criativas possuem conexões diferentes. Há partes que geralmente não trabalham juntas que ao serem acionadas se unem para produzir um resultado. Na concepção deles, para criar é preciso que ocorra a junção do pensamento espontâneo e o controlado.
Além disso, eles também concluíram que é possível “treinar” o cérebro para melhorar essa conexão para pessoas que não são tão criativas.
O que dizem algumas correntes de estudos?
Este fenômeno, que é a criatividade, vem sendo estudado por diferentes correntes de pensamento ao longo dos anos. Aqui, eu me preocupei em mostrar três que apresentam pontos bem interessantes sobre essa questão.Corrente Psicodinâmica
Esse estudo, proposto por Sternberg & Lubart em The concept of creativity prospects and paradigms, procurou utilizar como exemplo, pessoas altamente criativas que já têm um bom histórico, como Picasso e Leonardo da Vinci. Por causa disso, é uma pesquisa considerada pouco válida.No entanto, ela trouxe alguns fatos interessantes, por exemplo, a ideia de que nos cérebros de escritores ou artistas criativos acontece uma espécie de tensão entre o que eles percebem como real (consciente) e o que está em seu inconsciente.
Para os pesquisadores, assim como para Freud, esses indivíduos fazem trabalhos criativos com o intuito de expressar os seus desejos internos de uma maneira aceitável.
Corrente Cognitiva
Apresentado por Finke em Cognition: Theory Research and applications, essa corrente se baseia no modelo Geneplore. Um sistema em que o processo criativo é dividido em duas partes:- a generativa, no qual o cérebro do indivíduo elabora representações mentais utilizando coisas que ele já conhece. Cada uma dessas ideias possuem suas próprias formas de desenvolver inovações;
- a explorativa, em que as formas são utilizadas para criar.
Ele também diz que nesse processo todo, o indivíduo pode realizar uma sequência de cinco passos: recordar, associar, sintetizar, transformar, transferir por analogia e categorizar.
Corrente da personalidade social
Nos estudos feitos por Amabile, Gough e Mackinnon em The social psychology of creativity, A creativity scale for the adjective checklist e Personality and the realization of creative potential, a criatividade é vista por um ponto de vista externo.Os três procuraram definir o que externamente pode influenciar uma pessoa a ser inovadora. Eles chegaram à conclusão que traços da personalidade como ter um julgamento independente, ter autoconfiança, gostarem de coisas complexas e ter tendências mais estéticas são qualidades de pessoas criativas.
Everything is a Remix e a cópia da cópia da cópia...
Se por um lado, há pesquisas voltadas a entender o que pessoas criativas têm de diferente, por outro, existe gente tentando mostrar que a criatividade não é esse grande dom que todos pensam. É o caso do diretor e roteirista americano, Kirby Ferguson que fez um experimento bastante interessante.Ferguson desenvolveu uma websérie chamada Everything is a Remix em que tenta mostrar que todas as coisas que gostamos da cultura pop não possuem nada de original. Na verdade, essas produções são cópias de outras coisas que não gostamos mais, ou que não tivemos a oportunidade de conhecer.
Aliás, aproveitando o gancho dos parágrafos acima, eu gosto de pensar muito em uma coisa que é bastante comum em música e que tem tudo a ver com criatividade. Quando se está aprendendo a tocar guitarra, principalmente solos, costumam se juntar dois conhecimentos: escalas + licks.
Para ficar mais claro, licks são combinações de notas que são tão difundidas por todos que acabam virando um padrão. Muitos, quando estão solando, utilizam esses padrões, e para “criar” uma sonoridade diferente, alteram alguma parte. De forma que fazem uma coisa totalmente nova, apenas modificando algumas pedaços. Alguma semelhança com Everything is a Remix?
A fórmula da criatividade
Ainda para reforçar mais esse pensamento, existem alguns bons estudos. Os pesquisadores Jeff Dyer, Hal Gregersen e Clayton M. Christensen de três grandes universidades (Havard, Marriot School e Insead), defendem em seu livro The Innovator´s DNA que a capacidade de inovar está em todos e não apenas em pessoas específicas.Os três pesquisadores das universidades não só acreditam que a criatividade não é um dom. Como em suas pesquisas descobriram que de 25% a 40% dessa habilidade é genética, enquanto de 75% a 60% são aprendidos. Logo, para eles, primeiro se pratica, ganha confiança e começa a criar por conta própria.
Nesse contexto, eles definiram cinco características que pessoas criativas possuem:
- associação — essa seria a principal característica, os cérebros dessas pessoas são capazes de resumir informações, sequenciá-las e dar lógica;
- questionamento — são indivíduos que costumam questionar tudo, principalmente, desafiar aquilo que parece dado como certo. Eles fazem isso, pois, querem saber como as coisas realmente são. O hábito de perguntar, geralmente, levam eles a terem insights;
- observação — os criativos também são grandes observadores e estão voltados aos detalhes. Eles utilizam as suas observações como combustíveis para ter novas ideias e enxergar novas maneiras de fazer as coisas.
- networking — pessoas criativas procuram sempre manter contato com os outros, mas não qualquer um. Geralmente pessoas com pensamentos e culturas diferentes.
- experimentação — por fim, há uma abertura maior para experimentar o desconhecido. Eles estão sempre abertos ao novo e buscam explorar não só de forma intelectual como também sensorial.
Acredito que, ao longo desse texto, alguns fatores sobre criatividade ficaram bem claros: primeiro, que há de certa forma uma predisposição para ter essa habilidade. Contudo, ela não é a principal condição que define alguém criativo. Os hábitos externos são fundamentais para sedimentar a criatividade e torná-la parte do que a pessoa é.
Segundo, que muitas das coisas que admiramos podem ser apenas a combinação certa de outras coisas. Sendo assim, criar algo inovador é muito mais o fruto de boas referências do que um dom especial.
Espero que tenha gostado desse texto sobre a importância da criatividade, continue acompanhando, pois, teremos mais um post sobre criatividade!
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